O que é agrofloresta?
A união da agricultura e da floresta: um sistema de produção capaz de regenerar e produzir com responsabilidade ambiental.
Foto/Reprodução: Portal ESPM Jornalismo
Agrofloresta: a prática perfeita
Por Gabriela Ukracheski
Desmatamento, perda de biodiversidade, degradação do solo, desertificação, contaminação do solo, ar e água, produção de resíduos tóxicos, emissão exacerbada de CO2 na atmosfera, temperaturas desreguladas e catástrofes naturais. Tudo isso leva a sociedade a despontar para uma crise ambiental severa, onde se coloca em pauta a relação entre o ser humano e a natureza. Será mesmo que é necessário arriscar a preservação da natureza a troco de fornecimento de recursos para os seres humanos? O que se tem de recursos naturais disponíveis realmente não é suficiente para atender às necessidades da população mundial?
As inovações tecnológicas têm fornecido um crescimento significativo para o setor industrial e para a população. Através dele, benefícios são gerados para a sociedade interferindo no dia a dia do consumidor. Essas questões afetam diretamente a qualidade de vida dos indivíduos. Apesar dos benefícios que atendem parte das necessidades humanas, por vezes as consequências são altamente danosas para o meio ambiente. Ele é responsável por grande parte dos impactos e catástrofes ambientais e que põem em risco o Planeta Terra.
Em meio a tudo isso fica difícil enxergar saídas e soluções para o momento que se vive, mas nem tudo está perdido um pesquisador suíço descobriu um modelo ambiental que tem como objetivo a conservação ambiental, se trata de uma agricultura mais conservacionista e regeneradora, onde é interessante aplicá-la em áreas degradadas ou cultivadas para conservar esses locais e proporcionar produtos ambientalmente corretos. Bem-vindos à Agrofloresta.
Popularmente conhecida por agrofloresta, mas derivada de um termo mais científico denominada Agricultura Sintrópica consiste no funcionamento de um sistema de cultivo agroflorestal baseado no conceito de sintropia, ato que tem como foco a organização, integração, preservação e equilíbrio do ambiente. Esse modelo de produção foi trazido ao Brasil pelo suíço Ernst Göstch.
Foto/Reprodução: BBC News Brasil
Ernst Göstch nasceu em 1948 na Suíça, onde cresceu e trabalhou com pesquisas em melhoramento genético no Ministério Federal da Agricultura e Floresta da Suíça. Ao longo de sua pesquisa, Göstch questionou se haveria alguma possibilidade do ser humano obter melhores resultados caso optasse por adotar métodos de cultivo e produção que trouxessem condições favoráveis ao meio ambiente. Em palavras mais simples, trabalhar com a natureza e não contra ela.
Em terras brasileiras
Mas foi só em 1982, que Göstch veio para o Brasil e em 1984 fixou morada no país, após comprar a Fazenda Fugida da Terra Seca, no município de Piraí do Norte, Bahia. Foi nessa fazenda, conhecida hoje Fazenda Olhos D'Água, que o pesquisador desenvolveu e pôs em prática as técnicas da agricultura sintrópica. E foi investindo seus esforços e estudos nessa aposta, que Göstch reacendeu uma prática milenar e natural agrícola, com uma produtividade semelhante às mais disseminadas pelo mundo rural, porém sem depender de insumos externos, a fórmula perfeita é a natureza.
Confira no vídeo abaixo, Göstch contando como desenvolveu a prática agroflorestal em sua fazenda:
Agrofloresta, faz referência a um composto de vários consórcios que reúnem diferentes espécies de plantas em um sistema florestal, ou seja, levar a floresta para a produção de alimentos, ou levar o cultivo dos alimentos até a floresta. O grande diferencial dessa forma de cultivo se concentra no fato de que, a produção depende apenas dos processos que a natureza usa, como por exemplo, a biodiversidade e a cobertura do solo, fatores que fazem parte da sucessão natural, resumindo-se então, a um eixo natural do planeta, sem interferência de ́produtos externos. "É uma agricultura que trabalha com princípios submetidos à própria vida. Que todas as relações intraespecíficas e interespecíficas são baseadas no amor incondicional e na cooperação" palavras do próprio Göstch em um vídeo publicado no site Agenda Göstch.
Através de pesquisas, Göstch chegou à conclusão de que, a dinâmica da natureza quando associada à agricultura, proporciona um ecossistema mais equilibrado e com maior produtividade, alcançando assim a sustentabilidade. A prova de tal eficiência é marcada pelo trabalho que foi desenvolvido por ele na Fazenda Fugidos da Terra Seca. O antigo proprietário do local havia extraído com exaustão a madeira de toda extensão territorial, transformando tardiamente o lugar em pasto, contabilizando ao todo 487 hectares de terra totalmente degradados.
A prática perfeita
Ernst então colocou em prática os seus conhecimentos sobre a agricultura sintrópica nesta propriedade, utilizando de técnicas agroflorestais para a regeneração do solo. A cultura de destaque do local era a produção de cacau, mas ela não era a única, Göstch preparou o solo com tipos diferentes de alimentos, como a mandioca, o abacaxi e outras espécies que se associavam com a produção do cacau essa "mistura" ficou conhecida como consórcios agroflorestais.
Esse consórcio de plantas incluindo também alimentos e árvores foram responsáveis por reverter a situação de degradação da propriedade e resgatar a vida daquele lugar. Ernst não usou absolutamente nada de insumos externos, não fez o uso de adubação e pesticidas, ele deixou que a natureza fizesse seu trabalho. Em entrevista à BBC News Brasil , Göstch conta a história de sua fazenda e faz indagações que propõe reflexões ''Será que não seria mais inteligente se nos dedicássemos a melhorar as condições que damos às plantas, em vez de tentar adequá-las às condições cada vez piores que lhes oferecemos?"
Desde então, Göstch dedica seu tempo para compartilhar esse conhecimento, utilizando a internet no final de 2015 como disseminadora de sua prática, produzindo vídeo sobre seu trabalho desenvolvido no reflorestamento da fazenda. Sua pesquisa ficou cada vez mais reconhecida e isso permitiu que outros profissionais se aliassem a ele, juntos cruzaram o Brasil, promovendo cursos de agricultura sintrópica direcionada para produtores agrícolas
A agrofloresta parece ser uma utopia, já que não se é otimistas quando o assunto é reverter à situação ambiental catastrófica em que estamos vivendo, mas olhando para a essência e mecanismos que envolvem a prática agroflorestal é fácil compreender como ela pode ser uma saída quanto a continuar produzindo alimento de uma forma em que não seja preciso destruir tudo para construir novamente. Göstch ajudou a descobrir um modelo simples de que podemos adotar práticas sustentáveis de produção de alimento e ainda obter retornos econômicos com o que é produzido.
"Nós não somos a espécie inteligente, nós fazemos parte de um macrossistema inteligente. Eu nunca fui roubado por uma planta, elas não mentem. A ética delas é perfeita, você pode confiar" concretiza Göstch na entrevista. Diversos são os benefícios que a agrofloresta pode trazer para o ambiente, além da produção de alimentos, na medida em que esse sistema avança, maiores serão os recursos energéticos disponíveis dentro de um sistema que preserva a água e o solo, a regeneração de espaços agrícolas e a volta de aspectos que se perderam, aprisionamento de carbono, diminuição da temperatura, estabilizando-a conforme o local, aumento da umidificação do solo, infiltração da água entre outros fatores que contribuem para o funcionamento natural do planeta.
Em aspectos ambientais é uma prática perfeita, ela segue todos os parâmetros de uma floresta natural, quanto mais assemelhar o nosso ambiente agrícola ao de uma floresta natural, os serviços ambientais que a gente vai colher vão ser os ideais.
É difícil entender como de fato funciona os processos que envolvem a prática agroflorestal, abaixo separamos um vídeo que explica de forma ilustrativa como todo o processo acontece:
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